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carol zanarotti

A garota da foto

Depois de quase um ano achei um texto que escrevi sobre uma experiência estranha que tive vendo uma foto da minha filha:

24/03/2016 Lembro do momento em que tirei essa foto, quando pedi para ela olhar para mim porque queria fotografar a cor do olho dela que estava muito parecida com a cor do rio. Ela olhou mas estava sol e logo ela fechou os olhos e sorriu sem jeito. E eu gosto dessa foto e não da outra que tirei na sequencia quando ela conseguiu olhar. Gosto desse sorriso tão dela e de como ele surgiu de forma incontrolada. Amo esse olhar de olhos fechados e poderia escrever um texto só sobre isso...

O momento ficou e a foto está aí para contar histórias, muito mais do que hoje sou capaz de saber. Mas tive a sorte de um dia me permitir ir mais longe.

Era noite, de madrugada e estava sozinha na sala. Fiquei alguns minutos olhando essa foto, que é uma das minhas preferidas.

Olhando reconheci minha filha com seus 8 anos de idade. Vi a cicatriz acima da sobrancelha e lembrei do dia em que ela caiu da cadeira com 3 ou 4 anos. Lembro como me senti naquele momento, e depois como ela estava de um lado para o outro correndo no corredor do hospital como se nada tivesse acontecido, e como isso reflete muito da personalidade leve dela. Continuei olhando essa foto por um bom tempo me perdi em suas sardinhas, em seus dentes antes do aparelho e em seus cílios, e como cada aspecto dela me faz lembrar de uma ou várias outras histórias de sua infância.

Me perdi no sentimento de amor profundo que sinto por ela e depois, não sei como aconteceu, me perdi no tempo.

Por um momento olhei e não a vi mais como se ela tivesse 8 anos, ela parecia maior, uma jovem com seus 20 e poucos anos, não tinha mais traços da menina que conheço. Fiquei observando intrigada e um pouco confusa. Quem é ela? Minha razão me trazia de volta e sabia que era minha filha. Mesmo assim continuava a me perguntar e a imaginar como será que ela seria quando fosse esta a jovem. E apesar de tentar fantasiar algumas histórias possíveis e construir pedaços de vida que ainda não tinham acontecido, não conseguia saber quem ela poderia um dia ser.

Passou um tempo e minha percepção mudou, a garota tinha ido embora e voltei a ver uma criança, mas não a minha filha. Era eu naquela foto, eu me vi criança nela. Por alguns instantes eu jurava que era uma foto minha aos 8 anos de idade mas não conseguia me lembrar daquele momento. Tudo que fazia sentido se derreteu. Rapidamente voltei a mim, sentada olhando a foto e essa sensação misturada se foi. Fiquei sem entender, um pouco cansada, como se tivesse acordado de um sonho, então culpei o vinho. Nesse momento consegui sentir o que muita gente fala e o que até então eu só conseguia entender na teoria:

todo retrato que faço (dela) é também um retrato meu, de quem eu fui e de quem hoje eu sou.

Nunca antes tinha conseguido me ver, estampada de forma tão concreta, muito menos a ponto de me confundir em alguma fotografia. Não sei o que me fez viajar, me perder e me encontrar dessa forma. É algo que continua inexplicável para mim. Ainda bem, a vida e seus mistérios!

Quem sabe um dia eu consiga absorver alguns outros simbolismos desse mergulho, e do significado e da beleza que a fotografia pode nos proporcionar. E se não conseguir,

tudo bem, que voe!

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